Inicio > Dia de fúria: como escapar do tilt e vencer o inimigo #1 de todo jogador

Por Vini Marques

Comecemos este texto com uma máxima: “o poker é mais um jogo de pessoas do que de cartas”.

Esta ideia, embora verdadeira, pode desviar nossa atenção, enganar nossos sentidos e nos fazer pensar que o aspecto técnico do jogo é influenciado exclusivamente pela análise que fazemos do adversário. Não é só isso. Além do rival imediato, há que se decifrar o perfil de outro “vilão” que enfrentamos a cada mão: nós mesmos.

A análise do perfil do adversário é fundamental para o sucesso no poker, porque esta avaliação, quando bem feita, nos permite colocar o oponente em um range mais preciso de mãos e, consequentemente, expandir nosso leque de opções em quaisquer avaliações técnicas feitas posteriormente. Mas isso não é tudo. É preciso ir além.

CORTELLA E A MALDIÇÃO DO 0 A 0 NO POKER
Mário Sérgio Cortella
, pensador e estrela da filosofia brasileira, nos ensina: “pensar bem nos faz bem”.  O lema funciona na vida e funciona no poker, mas por vezes preferimos a filosofia de ‘boteco’.

Evoquemos, portanto, outra ideia – essa muito mais popular nos meios do poker, mas bastante perigosa e com enorme potencial destrutivo: “preciso ficar no zero a zero!”.

A ideia percorre e atormenta, como uma obsessão, a cabeça dos jogadores no vermelho – seja num dia específico ou em um período de downswing (fase ruim). Estes jogadores – e podemos nos tornar um deles a qualquer momento –, atormentados pelo ‘ferro’, buscam o resultado grande para zerar as perdas anteriores.

Todos já passaram por isso. Acontece com recreativos e pode acontecer até com profissionais. É o mal que espreita todo jogador e tem como estopim o momento em que a emoção ocupa o lugar da razão em uma tomada de decisão.

Pensar bem nos faz bem

O anseio irracional – e quase incontrolável – de tentar empatar ou reverter uma sessão (ou fase) ruim com apenas um torneio (ou sessão de cash game de stake mais alto) pode dar certo vez ou outra, mas o desfecho na maioria das vezes é desastroso: o jogador vai aumentar o prejuízo e se enfiar em um espiral de ansiedade e frustração. Fazendo analogia ao pensamento de Cortella, eis um caso clássico em que “pensar mal, nos faz mal”. Mas por que isso acontece?

EMOÇÃO VS RAZÃO
Os jogadores com esse perfil – a maioria dos praticantes do poker – são mais emotivos que racionais. As derrotas constantes e persistentes são um sinal de que há algo errado no jogo – e não são ‘forças ocultas’, o dealer ‘azarado’ nem seu ‘azar monumental’ que explicam o problema.

Em minha carreira, escutei por milhares de vezes frases absurdas como: “estava perdendo na noite e resolvi pagar sem odds para o flush, porque perdido por perdido, vamos para as cabeças”. Este apenas um de muitos absurdos que já ouvi jogando poker Brasil afora.

Jogar mais caro para compensar o prejuízo é comum, mas é um dos maiores erros que um jogador pode cometer

A OPERAÇÃO FOI UM SUCESSO, MAS…
Poker é um jogo de tomadas de decisão. Às vezes, uma decisão é correta e o resultado é negativo. Certa vez, fui eliminado, em quinto lugar, na mesa final do Main Event do BSOP de Salvador de 2010 (evento maravilhoso vencido por Stetson Fraiha) quando tinha AA e o meu adversário, Franklin de MG, tinha 57.

Fomos all-in. E vieram 723 no flop e, para minha infelicidade, o 5 no turn. Eliminado, dei uma declaração até hoje muito lembrada no meio do poker: “A operação foi um sucesso mas o paciente morreu!”.

Essa frase resume – e muito – o que é o dia a dia de um jogador de poker, mas não podemos nos abalar quando isso acontece. No poker, muitos de “pacientes” “morrem” diariamente. O cirurgião (jogador), porém, tem que seguir em frente, “operando” sempre da maneira correta, sem se permitir influenciar pelas fatalidades.

Muitas vezes, uma sessão negativa de cash ou uma fase ruim nos torneios é decorrência de baixa amostragem (variância); ou seja, neste caso o jogador não é perdedor, mas está perdedor. “Encarar bem os ferros da vida” (frase genial de Fernando “Grow” Brunca Garcia) é requisito indispensável para o sucesso.

Quem nunca testemunhou um profissional talentoso ser facilmente derrotado por jogadores mais fracos num dia ruim? Nestes momentos, além de jogarmos pior, nossa imagem é derrubada e perdemos a credibilidade para blefar ou tentar jogadas mais complexas. Isso é consequência da nossas tentativas irresponsáveis de ficarmos no zero a zero.

A operação foi um sucesso mas o paciente morreu!

Bobagem. Afinal, se o poker é sempre afetado pela variância e nossa arma para influenciar o resultado é tomar as melhores decisões, por que não podemos perder um dia?

3 PRINCÍPIOS DO TILT E COMO VENCÊ-LO
Os jogadores lucrativos entram em tilt? Claro, mas o ‘momento de fúria’ dura pouco, porque eles estão acostumados a criar uma rotina para identificar esse desequilíbrio e, assim, cortarem pela raiz esse mal bem antes que a maioria.

Jogadores perdedores, por outro lado, jogam de maneira mais agressiva e, como tendem a perder mais, buscam jogos mais caros para zerar o prejuízo em uma só jogada e ignoram três princípios importantes:

  1. Jogos mais caros geralmente são mais difíceis.
  2. Jogadores em desequilíbrio não praticam seu A-game
  3. Jogadores de nível mais baixo são vistos como presas em mesas mais caras, o que torna seus oponentes mais agressivos e perigosos.

Esses três princípios – debatidos a exaustão inclusive por profissionais como o renomado psicólogo dr. Alan Schoonmaker – explicam buracos profundos nos quais muitos jogadores se enfiam quando colocam a emoção a frente da razão!

Sabemos agora o que não deve ser feito, mas como evitar que esse seja o nosso destino? Como os bons jogadores evitam esse caminho e seguem o seu ciclo virtuoso em vez de um ciclo vicioso?

Jogadores vencedores tomam decisões baseadas nos fatores técnicos e não na sua expectativa em relação às perdas anteriores. Resistem à tendência natural de acreditar que suas vitórias sejam fruto de habilidade e as derrotas consequência de má sorte.

Quando a fase de torneios ou a sessão de cash é positiva, tendemos a estar no nosso melhor jogo mais focado e controlado e quando a sessão é negativa ou a fase é ruim a tendência é descer do A-game. Assim sendo, sendo simples e direto, interrompa o quanto antes as sessões ruins e potencialize ao máximo suas sessões boas.

Lembre-se, no poker vence no longo prazo quem toma as melhores decisões. Entender o que acontece com todos na mesa, principalmente com você, é fundamental. Um grande abraço e até a mesa final!

 

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