Inicio > Tapa de Akkari, fama e começo difícil; os bastidores do bracelete de Roberly

Dezenas de braceletes são distribuídos a cada ano na World Series of Poker. Centenas (talvez milhares) ao longo da história. Mesmo assim, apenas quatro destas iguarias vieram para o Brasil. O último deles neste ano, com Roberly Felício Flag of Brasil, vencedor do Colossus, evento 7 da WSOP e torneio ao vivo mais concorrido do mundo em 2018, com mais de 13 mil entradas. Os primeiros três Campeões Mundiais foram Alexandre Gomes, em 2008, André Akkari, em 2011, e Thiago Decano, em 2015.

Os braceletes brasileiros são, portanto, cada vez mais comuns. Ainda assim, cada conquista segue um feito excepcional, comemorado como tal. Quando Gomes venceu em 2008, é verdade, poucos compatriotas testemunharam a conquista, já que o Field brasileiro na WSOP naquela época era reduzido. Desde 2011, com o título de Akkari, porém, cada vitória no estado de Nevada é comemorada como uma Copa do Mundo. Os jogadores se reúnem nas retas finais e transformam o Rail em arquibancada.

Foi assim também com Roberly, ainda que este jogador, residente em Anápolis, no estado de Goiás, fosse um completo desconhecido não apenas dos fãs de poker, mas também dos principais jogadores do circuito até algumas semanas atrás.

Quando se inscreveu no Colossus (torneio de $ 565), Roberly – que concedeu entrevista ao CodigoPoker durante sua participação na etapa de São Paulo do BSOP – estava pressionado. Havia perdido 1.800 dos 9.500 dólares de seu bankroll em Las Vegas, ao fazer 3 reentradas em um torneio paralelo no Venitian, cassino de Las Vegas. Queria apenas fazer um ITM, para não voltar da viagem, sua terceira à WSOP, no prejuízo.

Sozinho em Vegas; de repente famoso

Roberly Felício celebra o bracelete da World Series ao lado de Akkari, Mojave, Bruno Foster, Alex Rivero e outros torcedores/jogadores do país.

Roberly, ao contrário de muitos que vão a Las Vegas, viajou sozinho para curtir o mundial de poker. Tinha mais amigos no meio dos negócios, onde se destaca no mercado alimentício, do que no poker.

Mesmo assim, viu, como fruto de magia, seu círculo de amigos aumentar no momento em que se colocou na reta final do Colossus. Quando restavam cerca de vinte jogadores, a informação começou a se espalhar pela imprensa e por grupos de Whatsapp.

Um novo jogador poderia ser campeão mundial. Poderia se tornar mais um milionário do poker, já que a premiação para o vencedor já havia sido definida em $ 1 milhão (quase $ 4 milhões).

Assim, Roberly conheceu dois dos antigos campeões mundiais: Akkari e Thiago Decano e reencontrou um velho conhecido: Felipe Mojave, que havia sido coach por um dia de Roberly quatro anos antes, quando o então apenas empresário conheceu e se apaixonou pelo poker.

“O Felipe Mojave, há três anos, esteve em Goiás. Fez um coaching para um grupo de empresários. Eu estava nesta turma”, lembra o hoje campeão mundial. ”Foi a primeira vez que eu estudei com um profissional. De lá tomei gosto e nunca mais parei”.

Apesar do contato em 2015, Roberly e Mojave não eram amigos. Agora, porém, seria diferente. De repente, a nata do poker nacional estava a seu lado e Roberly, além das fichas, passou a carregar uma responsabilidade imensa: por algumas horas a bandeira do poker esteve em suas mãos.

Akkari e Mojave não eram amigos de Roberly, mas rapidamente ficaram próximos do jogador; e tiveram, conta Roberly, importância fundamental na conquista.

«Felipe Mojave e André Akkari foram muito importantes. Nos intervalos, me davam algumas dicas e falavam comigo. Em determinado momento, quando estávamos em quatro jogadores e eu estava short stack, eu disse ao Akkari: ‘cansei. Bateu um cansaço. Não dá mais’. E foi um momento muito forte. Porque ele me deu um tapa e disse: nós todos profissionais queríamos estar no seu lugar, mas é você quem está. Você é o nosso representante».

A atitude dura de Akkari, conta Roberly, o manteve concentrado. Mojave, por sua vez, ajudou Roberly a não perder o foco quando a cravada se aproximava.

«Quando eu estava no heads-up e meu adversário estava bem short eu comecei a sorrir. E o Mojave falou: tira esse sorrisinho do rosto. Não ganhamos nada ainda», lembra. “Os dois foram muito importantes nesta conquista e eu sou muito grato a eles».

Aquele momento mudou a vida de Roberly. O jogador, até então um desconhecido na comunidade do poker, virou referência. Na etapa de São Paulo do BSOP, realizada em julho, desfilou o tempo todo com seu bracelete em mãos, entre abordagens de dezenas de curiosos e admiradores, espalhados de canto a canto do Sheraton Hotel, em São Paulo.

10 anos depois do primeiro bracelete, veio o quarto. Veio, finalmente, o primeiro mundial de um amador – ou jogador recreativo –. Em Las Vegas, Roberly, que administra uma distribuidora de alimentos bem sucedida, só queria se divertir.

“Me fizeram a seguinte pergunta quando eu cheguei a aqui no BSOP. Você conseguiu dormir na noite que antecedeu a mesa final no WSOP?”, conta Roberly. “Eu digo o seguinte. Eu dormir muito bem. Eu não dormi depois. Penso no que aconteceu o tempo todo”.

No poker, como na vida, os frutos dependem de decisões. No poker, como na vida, o acaso pode mudar tudo também. Um out no river distingue o campeão mundial de mais um não campeão.

Roberly realizou o sonho de todo jogador. Pode demorar ainda para voltar a dormir como antes. Experimentou uma sensação única. Deixou de ser mais um. Foi imortalizado. E talvez faça a diferença na vida das pessoas. Muitos vão querer ser o novo Roberly. É mais fácil que ser o novo Akkari, o novo João Simão. E tão bom quanto.

Confira a entrevista de Roberly ao CodigoPoker

Qual é a sua atividade fora do poker?

Sou empresário do ramo alimentício. Tenho uma distribuidora de alimentos, a CADU Comércios e Serviços – empresa com sede em Cuiabá – MS. Vendemos para o estado de Goiás e para o Distrito Federal e também administramos cozinhas comunitárias. É um trabalho muito bacana, em que as pessoas pagam dois reais para almoçar. Eu e meus dois filhos somos sócios do grupo e a gente desenvolve nossa maior atividade nesta área e também na área de construção, mas nosso maior nicho de mercado é na área de alimentação.

Quando teve a ideia de ir para Las Vegas. De participar da WSOP?

Foi o terceiro ano que eu estive na Las Vegas. No primeiro ano, praticamente eu só fui mesmo para ver. Joguei um ou outro torneio paralelo (torneios realizados em Las Vegas, mas não pertencentes à WSOP). No ano passado, consegui um êxito melhor. Fiz três mesas finais em torneios paralelos também. Neste ano eu resolvi um dois ou três torneios principais (o que Roberly chama de principais são os torneios da WSOP propriamente ditos). E alguns paralelos. Essa era a minha grade. Depois que conquistei o título as coisas mudaram. Resolvi jogar também o Main Event

Como você começou no poker e como evoluiu, para chegar nesse nível?

Eu comecei há quatro anos. Conheci o poker em um grupo de amigos. E desses quatro anos para cá. Comecei a me interessar mais pelo jogo. Comecei a estudar e cada vez fui me aprofundando mais. Os resultados foram vindo e chegamos até a conquista do Colossus. Comecei há quatro anos e continuo estudando para aperfeiçoar e chegar, quem sabe, a conquista de um Main Event. Esse é nosso pensamento.

Quem te ajudou? Quais foram seus mestres?

O Felipe Mojave, há três anos, esteve em Goiás. Fez um coaching para um grupo de empresários. Estava neste grupo de empresários. Foi a primeira vez que eu estudei com um profissional. De lá tomei gosto e nunca mais parei de estudar.

Qual era sua expectativa para essa WSOP?

A expectativa era dobrar aquilo que eu levei. Levei 9.500 dólares para poder participar de tudo. Eu ia jogar os torneios de $ 550. E o Colossus de$ 565. A expectativa era voltar com pelo menos os $ 9.500 que eu tinha levado. Essa era a expectativa e ela foi superada de todas as formas.

Quem esteve com você em Las Vegas?

Eu fui sozinho e acabei encontrando um empresário amigo meu, que estava em Nova York, com a família. Ele me ligou e falou olha Roberly, acho que vou ficar com você aí. Mas, a princípio eu fui sozinho, e, após 15 dias, meus filhos foram para ficar comigo.

Que momento que sentiu que era real sua chance de vencer o torneio mais disputado da WSOP?

Somente quando eu estava no Heads-up. Confesso que minha expectativa quando comecei o Colossus era de conseguir uma premiação. Porque assim que cheguei em Las Vegas, joguei um torneio no Venetian, em que fiz três entradas. E fiquei muito irritado comigo mesmo, porque eu perdi 1.800 dólares em um dia. Para quem tinha 9.500 era bastante. Então, quando fui jogar o Colossus, meu pensamento era buscar os 1.800 dólares que eu havia perdido.

Você se pega pensando no que aconteceu? Como isso aconteceu comigo?

Todos os dias. Não tem como não pensar. Me fizeram a seguinte pergunta quando eu cheguei a aqui no BSOP. Você conseguiu dormir na noite que antecedeu a mesa final no WSOP? Eu digo o seguinte. Eu dormi muito bem. Eu não dormi depois.

Como o título mudou a sua vida?

Mudou de várias formas. Eu, como empresário, já tinha uma certa facilidade, vamos dizer assim, de pagar os buy-ins. Mas, quando você tem na sua conta um prêmio de

1 milhão de dólares – tirando os impostos, claro (20%) –, você começa a jogar sem ter a pressão do dinheiro, como antigamente. De forma que hoje eu jogo mais tranquilo e posso desenvolver meu esporte com mais facilidade.

Como você pretende explorar sua imagem como campeão mundial de poker?

Não pensei nisso ainda, porque eu sou recreativo. Eu não sou profissional do poker. Meu pensamento no momento é apenas me tornar um jogador melhor. Se isso (o título) acrescentar alguma coisa para mim em forma de renda, seria muito bom, mas não penso em usar minha imagem para isso.

Penso usar esse bracelete para que os jogadores recreativos sejam reconhecidos como pessoas que não são melhores nem piores que os profissionais. Espero ajudar de alguma forma para que o poker cresça no Brasil e diminua o preconceito.

Quais momentos marcantes, além do título, você viveu em Las Vegas?

Nenhum momento se compara a ser campeão, porque o sonho de todo jogador de poker é conseguir um bracelete. É ser campeão mundial. Não tem nada que possa superar essa emoção

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